e não pode, nunca, deixar de o ser. Devemos estar a viver um longo intervalo.
Ninguém pode ficar indiferente ao ouvir as notícias no país e no mundo, há uma espécie de epidemia de desgraças e de desconsolo.
E as guerras? E os povos sem eira nem beira andando em fila à espera de quem os ajude? Quem as fomenta e lucra com isso? São os países que os acolhem? É brutal toda esta hipocrisia.
Numa época em que é possível reconstituir o dia de qualquer um, com os registos dos pagamentos por multibanco, portagens e telemóveis, estes assuntos graves não são aclarados, porque o dinheiro tomou conta de tudo, é uma religião fanática.
E o trabalho? Não pode continuar a ser desmerecido, é um direito e um dever de qualquer ser humano ser útil socialmente e ser pago por isso. Um bordado de Viana do Castelo, os tapetes de Arraiolos e tantos outros emblemas da nossa cultura não podem ser comparados com outros semelhantes, executados à pressa, em máquinas. O parecido não é igual. Isto não é ser competitivo, é nivelar por baixo.
Pois eu - e creio que muitos de nós - não me conformo.
Não podemos assumir que a normalidade agora – conceito moderno – é assim. E ouvir falar de casos bem sucedidos - como se mostrassem um campo pulverizado com insecticidas onde sobreviveu um caracol - com tanta competição, leva-nos a viver numa sociedade doente, implacável, esquecendo a generosidade e a dignidade.
Quem é que pode dizer-se feliz se, à sua volta, houver tanta precaridade com falta de esperança e alegria?
O amor – nas várias vertentes construtivas - tem de continuar a ser o nosso fio de prumo.
a maquineta enlouqueceu e o dono, que devia tomar conta disto, foi ali e já vem.
Estava aqui a lembrar-me que, em termos gerais, ainda não há muito tempo, havia verdades sociais sagradas, e que, quer fosse para as integrar, quer fosse para as ignorar, eram referências.
Hoje quando ouvimos elogios (raros), injúrias, burlas, compadrios, honras e outras observações de comportamento ou caracter e formamos opinião, somos inundados de pormenores, na maior parte das vezes pequenos, que nos perturbam sem serem esclarecedores.
Que mal tem ouvir a história de um senhor solteiro, erudito, bem falante, com casa ali para a praça da figueira, que todos os dias se apresentava às oito horas no banco para trabalhar e que nunca fez mal a ninguém?
É necessário ouvir que era homossexual, porque olhava e ajudava mais os rapazes? Ou que teve uma relação e um filho com a empregada a quem não deixou nada em testamento?
E este é um dos exemplos mais comuns e inofensivos.
Penso que isto tem a ver com esta nova sensação - facebook e afins - de que todos somos, mais ou menos, figuras públicas. Só que os artistas quanto mais polémicos eram, mais caras as suas obras ou aparições, mas nós não. Nós andamos de borla.
Temos que ser mais generosos, porque afinal de que é que se vive se não se viver de amor?