eram o que de melhor se comia em Évora. Tinham um grão cozido na parte de cima, que saía dourado e tostado do forno. Era um subir e descer degraus nos dois dias da semana – quarta-feira e domingo – em que seguíamos o cheirinho pelas ruas.
Viviam juntas as duas irmãs, Dona Beatriz e Dona Brites, numa casa de traça clássica numa rua bonita da cidade, com uma empregada que era como se fosse da família – vivia lá desde menina.
A Dona Brites tinha um temperamento austero, dava aulas de música – piano e voz - todas as tardes e andava sempre com ar sério nas poucas saídas que fazia. Dizia-se alguma coisa sobre essa má disposição que carregava, que era por isto ou por aquilo, mas, ao certo, não se sabia. Não frequentava a igreja, apesar de ser católica. Diziam os alunos que parecia outra pessoa nas aulas, sorria e ficava tarde inteiras, assim, iluminada.
A Dona Beatriz era, praticamente, o avesso da irmã. Alegre e disponível para a conversa, ia à missa, ao mercado, à farmácia, ia a todo o lado onde houvesse interacção com pessoas, e foi dela a ideia de fazerem as célebres empadas – uma parte do dinheiro ganho ia para acções de caridade que, ela e outras senhoras, geriam. O que era engraçado na Dona Beatriz era que ela estava sempre metida em qualquer enredo que se passasse, havia sempre uma citação da Dona Beatriz ou porque tivesse ouvido ou visto. Por qualquer coisa. Andava sempre em conversas, fosse para saber, esclarecer algum mal entendido, dar opinião. Havia quem lhe chamasse a conselheira municipal, porque ela também estava a par das regras cívicas, falava de tudo e, dizia, que o que não soubesse bem, aprendia.
Lembro-me que, além da dentada celestial nas empadas, o caminho era um programa. Arranjava-me, não do modo vou ali e já venho, mas como se fosse para encontros. E ia mesmo.
Quando me lembro das manas, sorrio sempre. Acredito que tinham alentos secretos e, para além ou apesar de, entendiam-se. Como contraponto, ou talvez não. Quem sabe?