porque não esqueço a esperança em todas as caras. Nas que tinham informação política e nas que não tinham.
Das caras ingénuas às caras marcadas pelo trabalho e pela idade, do entusiasmo dos intelectuais, dos políticos, dos artistas. De toda a gente.
Íamos ter um país melhor, com uma vida mais digna para todos. E melhorámos muito. Houve alturas em que parecia que o mundo seguia o caminho do paraíso, cada vez mais abrangente e justo.
Depois veio a tão famosa crise e destapou as prioridades, dando o primeiro lugar ao mundo financeiro - com tantas trapalhadas - em detrimento do direito ao trabalho e dos benefícios sociais que levaram tantos anos a conquistar. Andámos para trás. Mas não vamos desistir porque temos a memória, a persistência, os sonhos e os símbolos.
Lembrando muita gente que lutou pela liberdade e pela cultura. Lembrando Zeca Afonso.
Tantos erros acontecidos há bem pouco tempo e nós, que comemoramos a nossa revolução pacífica de Abril, nesta primavera bonita, nem acreditamos em tão grandes riscos.
Será que podemos contagiar alguém com esperança e solidariedade?
Comprei e plantei, há mais ou menos três anos, uma glicínia e uma magnólia grandiflora de folhas perenes, já com um tamanho razoável. Até hoje nada de flores.
Na opinião de duas ou três pessoas que eu pensava entendidas e a quem perguntava o que achavam da magnólia, disseram que aquilo não era uma magnólia, que devia ser uma árvore da borracha. Procurei no Google mas não cheguei a nenhuma conclusão que me fizesse decidir se a arrancava ou não, até porque, em certas matérias, como esta, prefiro ouvir e aprender com a experiência de quem sabe. Sou fã do cruzamento entre empíricos e teóricos. A semana passada decidi ir a um horto que fica no Carvalhal comprar uma magnólia de flores cor-de-rosa e de folha caduca, embora a folha caduca sempre me tenha amolecido. Mas uma decisão é uma decisão. E quando fosse plantar a nova tiraria a que lá estava.
Acontece que havia na vila uma feira e uma senhora a vender flores. Fui lá e falei com ela.
Disse-me que eu não tinha sido enganada. Tinha, de facto, uma magnólia grandiflora que demorava algum tempo até dar flor, mas que valia a pena esperar porque para além de a árvore ter sempre folhas e nunca ficar só no tronco, quando floresce dá uma flor branca cerosa e linda, espessa, tão perfeita que, essa sim, parece de borracha, e que tem um florão no centro, avermelhado, que faz valer a pena todo o tempo que demora a florir. Disse-me, ainda, que tinha por ali um livro já velhote mas que nunca largava, porque era ali que aprendia tudo sobre as plantas e flores que vendia. Foi buscá-lo e esteve a explicar-me as diferenças das folhas, e a sorte que eu tinha por a planta se ter adaptado bem à terra e que não deveria demorar muito até dar flor.
Para além da simpatia e do interesse - não lhe cheguei a comprar nada - emocionou-me o seu empenho e competência. Desfiz-me em elogios e talvez tenham sido, ainda, poucos.
Ainda não tenho flores, claro, mas fiquei mais rica com este encontro cheio de generosa disponibilidade.
Quem dera que a competência desta Senhora Jardineira não fosse uma atitude tão invulgar.