Este filme honesto e sério fala sobre os relacionamentos no nosso tempo e conta com o brilho da admirável Juliette Binoche. À partida poderia ser tomado por uma história levezinha e pragmática sobre a liberdade das mulheres. Mas tem outro olhar.
Falando grosso modo não se vivem tempos de contentamento. O narcisismo que tanto tem sido estimulado, em cascatas de livros de auto-ajuda, e na competição pura e dura por causa do emprego escasso, e não só, está agora instalado como verdadeira epidemia. Claro que esta onda egoísta que se vive social e individualmente veio aumentar a solidão e a insatisfação. Como se não existisse a compaixão, a generosidade, a solidariedade e outros sentimentos que vão para além de cada um. Em direcção aos outros, aos benefícios comuns.
A história do filme é banal, porque as epidemias banalizam, uma mulher separada que tem encontros amorosos sucessivos, incluindo com o ex-marido, e que procura o amor perfeito. Quanto mais tempo passa mais vai fechando os olhos a detalhes que não gosta, porque a solidão passou a pesar muito mais que o que pretende. E o filme acaba com uma consulta a um vidente, porque é mais fácil acreditar que o problema está nas conjugações astrais ou coisa que o valha, do que na generosidade e compreensão.
É triste assistir a esta desumanização e à adoração de umbigos. Tão triste como a falta de consciencialização para a mudança de comportamentos que temos de fazer em relação às agressões que fazemos ao nosso planeta.
Não podemos continuar a usar e a deitar fora. Em tudo.
É um filme fora da caixa e com uma excelente banda sonora.
Começa por tentar definir o que é arte contemporânea, sendo que o critério maior é o dinheiro que se consiga obter, não só pela aderência do público como também, e talvez sobretudo, sensibilizando as doações utilizando, para tanto, promoções bem pensadas e especulativas que provoquem controvérsia. Os assuntos sensatos de aceitação generalizada, por norma, não garantem grandes aderências. A título de exemplo, o curador do museu, numa entrevista, responde/ pergunta à jornalista o que pensaria ela se a sua mala fosse exposta numa das vitrines das salas do museu, considerá-la-ia arte?
Actual e certeiro na avaliação da cultura mercantil, tem várias cenas em que se fica a pensar. Há um jantar de angariação de fundos, chique, em que numa performance de animal/homem controlada e bizarra, facilmente tudo se descontrola entre o actor e os presentes criando o caos. Há uma outra em que por causa do roubo de uma carteira e telemóvel, por descuido do politicamente correcto, a situação ganha contornos impensáveis.
É sempre por pouco. A linha é fininha e de fácil transposição. A elegância é frágil, porque a sociedade é desigual e cria bolsas de revolta imprevistas, especialmente se os marginais, neste caso os mendigos, são úteis na corrente social do irrepreensível.
Interessante e dá-nos mais uma achega para repensarmos até que ponto podemos, ou devemos, ignorar e utilizar quem, à partida, não parece ameaçar-nos.
Sempre com a música que, pensamos, não poderia ser outra.
Escolho esta pessoa e não aquela porque a admiro. Respeito-a pelo seu pensamento e pelas acções que pratica, pela beleza que reflecte em quem a ouve, pela honestidade com que vive ou pela generosidade e coragem com que reage às adversidades. Ou pela irreverência, pela graça, pela audácia ou desassossego.
Quando somos novos, por ingenuidade e por falta de experiência (como é devido), não temos como escolher. Paixões, atracções e simpatias encarregam-se disso. Em adultos começamos a soprar incoerências, maldades, traições e outros desamores e vamos ficando mais isolados. Não é bom. Mas não é o pior. Mau mesmo é sentirmo-nos mais tolerados do que amados.