às cavalitas de um caracol
vi como são tristes e demoradas
algumas despedidas.
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vi como são tristes e demoradas
algumas despedidas.
suspendeu o sopro
e sorriu.
pintura a óleo, Rui Couto
Ela tem um pescoço comprido, como uma gazela, mas a elegância não lhe vem só daí. Com um sorriso bonito dá os bons dias, educada e serenamente, e contagia a pequena esplanada. Cada um, à sua maneira, ganha mais convicção. O João fica mais espirituoso com os clientes, o Senhor lá ao fundo abana o jornal como quem faz um refresh às notícias, há quem ajeite a postura e os óculos. Nota-se uma elevação. Quase todos se alongam.
Ele, também discreto e simpático, ama-a.
caminho e faço força nos pés
olho em frente, sempre em frente,
passo no meio de chuvas, ventos e calores.
Abano, recuo e sigo.
Ainda sei quem sou.
E é por causa daquela tristeza enevoada que ela veste
quando entra ao fim da tarde e se senta ao balcão a pedir o café,
parece-lhe um barco ancorado num cais em dia de nevoeiro.
Sente-lhe falta de força para ir para casa. É outro turno de trabalho.
É então que ele, cuidadoso e gentil, escolhe a cor do bombom
que lhe põe no pires, ao lado da colher, com a certeza que lhe melhora a vida.