não consigo compreender a falta de resposta adequada. Será que é desumana a indignação de quem se levanta todos os dias de manhã para ir trabalhar sempre para o mesmo sítio com sentido de responsabilidade e ganhando o dinheiro de que precisa para viver, ainda que pouco, mas sentindo-se precário no seu esforço? Sendo que o vínculo da empresa com os trabalhadores é diário, sem a garantia de um contrato que lhes dê a segurança de em caso de doença ou de qualquer impossibilidade receberem o ordenado que merecem? Porque em caso de desmerecimento também existem os despedimentos por justa causa.
O que significa hoje ser rico? É a desvalorização das pessoas que deles dependem? Não ser relevante serem servidos por gente pobre, sem assistência médica, alimentar ou higiénica adequada? E os ricos não poderão ficar mal servidos com pessoas que podem, até, contagiá-los?
E a compaixão? E os ideais niveladores esgotam-se com a arbitrariedade das esmolas?
não sei, exactamente, definir o momento ou o sentimento que consolidou a camada protectora decisiva que me resguarda de tantas emoções. Foi, com certeza, alguma mágoa mais funda, alguma decepção mais cruel ou algum rasgo de lucidez mais cru.
Em boa hora. Porque é uma arte marcial saber gerir a sensibilidade.
Um documentário-poema, com os ideais pacifistas, de respeito e generosidade a que já nos habituou Agnès Varda. Melhorado, é sempre possível, pela originalidade e alegria das fotografias de JR.
O que parece tantas vezes impossível de tocar, por não haver quase pontas por onde pegar, afinal pode não ser. Através de fotografias gigantes que reavivam ofícios e memórias de pessoas que ali viveram e vivem, ficam as aldeias ou os lugares mais alegres, empáticos e dignos.
E a paisagem é tão bonita quanto a autenticidade da sintonia entre as pessoas. É uma boa ideia nunca desistir de encontrar o lado mais generoso da nossa raça e fotografá-lo em tamanho muito grande. Mesmo sem a máquina.