desassossego
Tenho andado a seguir, com muito interesse, as conversas que a cineasta Graça Castanheira tem com convidados tentando imaginar o mundo em 2084. Pessoas envolvidas directamente, pelo menos os que já vi, em projectos científicos que visam o desenvolvimento da inteligência artificial e a introdução de mais robotização nas nossas vidas. Não fico nem assustada nem aos pulos de contentamento, fico a pensar. As investigações custam dinheiro e estes investimentos são contemporâneos de barcos cheios de gente a morrer às portas (baías) de países considerados democráticos e respeitadores dos Direitos do Homem. É verdade que o mundo pula e avança como bola colorida nas mãos de uma criança (palavras de poeta). Mas é tão díspar a convivência de interesses e de prioridades.
Calhou, também por estes dias, ver o filme O Congresso, de Ari Folman. Sem saber de que tratava fui ficando desconfortável e apreensiva. Uma visão de futuro desumanizada e cruel, com um único raio de generosidade e delicadeza que vem da actriz Robin Wright, representando-se a si própria.
Lembro-me ainda de uma entrevista a um conceituado intelectual português que justifica gostar de punk, não propriamente por escolha mas mais por rejeição ao espírito dominante dos anos sessenta, movimento hippie, filosofia em que não acredita, porque isto de flores e de mãos dadas não é para ele.
Juntando tudo, e dado que não gosto de punk, em 2084 gostaria, mesmo muito, que andássemos com flores nos cabelos e de mãos dadas, a cantar.