Jonathan Franzen, Correcções
Comecei por ler Liberdade, segui com Purity e, agora, Correccções que, dos três, é o mais antigo (2001) e do que mais gostei.
O tema é apetitoso e conhecido de todos, a família. Os sentimentos esmagados por quase nada e o pudor de falar de forma autêntica com pessoas que, forçosamente, vão ter de partilhar e dividir dinheiro, bens, preocupações e decisões com a velhice e com a doença. Pessoas essas que confraternizam também em ambientes de festa, como aniversários e Natais.
Não é suposto que qualquer mostra de fragilidade ou de sucesso neste ambiente de intimidade seja criticado, mordido, pouco festejado e, sobretudo, pouco falado. Cala-se muito e fala-se pouco. Por isso, qualquer distracção é vista como ameaça e requer correcção. Não se apreende facilmente que desconfiemos do que está tão perto, tão visceral e emotivo, tanto mais que é através dos sentimentos que nos encaminhamos para a atitude, para o critério em que toda a nossa conduta assenta. E não se salvam as famílias que escravizam e maldizem dezenas para louvarem duas ou três pessoas que tomaram o poder. Porque as famílias também têm governo, e quase nunca há eleições.
As alegrias, dores e enganos que se geram, ainda que pouco ou nada de palpável tenham, vão criando uma cultura familiar a que não se escapa.
E assim continua o ambiente na maior parte das famílias enquanto socialmente a maioria concorda com as diferenças de comportamento a que assistimos. Vai sendo tempo de falar de mesquinhez.