carta para B.
escrevo-te para não te telefonar. Não quero o contraponto, a anuência, sentir o enfado ou a irritação contida. Quero falar-te de coisas de que sempre falámos, do que não se resolve, do que não incomoda sempre da mesma maneira, do alento que sentimos em certos dias e da sua falta em tantos outros. Misturamos sempre as nossas vidas no mundo, no equilíbrio e na justiça que tanto desejamos.
Nestes últimos dias tenho pensado que a esperança, a justiça e a alegria têm de ser garimpadas como se fossem pedras preciosas, andam guardadas, mal se veem, devem estar com elevada cotação. Não admira. Alterações climáticas, corrupção, vírus, desemprego, fome, violência doméstica, tantos destes sofrimentos evitáveis ou menorizados se, para isso, houvesse empenho em perseguir a ganância.
Por isso te escrevo, também não estou a ver com quem mais poderia fazê-lo, embora já saiba o que me vais dizer, que não me calo com a ganância e que não é o único mal do mundo. Mas sempre demoras um pouco mais de tempo a responder.