Por norma, as limitações geram incompreensão, revolta, desafio, aceitação e conformismo. E, de certeza, tantos outros estados de que não me estou a lembrar, mas a aceitação é a que leva a palma. Ao aceitar estamos a compreender e daí vem o sossego. Se a infecção por COVID fosse a única doença que nos provocasse inquietação, mas não, estamos carregados de medos e ansiedades de tantas outras. E de culpa. E se não cheguei a todos os dedos quando passei as mãos pelo gel? e se? e se?
Anda a ser complicado manter a inocência que, mais por teimosia do que por crença, não quero abandonar. Já me parece um balão que mal controlo; valem-me os pássaros, de quem tanto gosto, que me ajudam a atrapalhar a sua subida e me fazem chegar o cordel.
é assim que ando a ver a minha vida e o mundo. Tem sido difícil mas é a minha estrada. E tenho aprendido, como todos e como sempre.
É surpreendente como os relacionamentos e os afectos têm mudado com o medo em pano de fundo, nalguns casos já se viam paredes de papelão, noutros adivinhavam-se embora enfeitados com exuberâncias panfletárias. Confesso que tive imensa dificuldade em eleger a pessoa que mais me decepcionou em 2020, mas consegui, não uma ou duas mas várias e juntei-as ao molho, abraçadas com fio de sapateiro – dá um ar artesanal – e lá estão no pódio. Quanto às que ficaram comigo, na plateia, agradeço-lhes a lealdade.
Não tem sido fácil e não será tão cedo, certamente, mas não pode vencer o cinismo e o egoísmo. É tão cru e tão feio. Os dias sobreviventes sem o calor do desejo de saber como vão os que queremos, sem a generosidade de bem fazer são um adiamento e penso que, decorrido todo este tempo, já temos a certeza que a responsabilidade individual é a atitude inteligente que podemos ter.