Wolfgang Becker - Adeus, Lenine! 2003
Só hoje vi este belíssimo filme que passou na RTP2. A vida tem disto, quando pensamos que não perdemos grandes coisas, aparece-nos, sem sequer termos pedido, uma bela fatia de pão de rala e uma chávena de chá quentinho numa esplanada calma, à beira-mar. Ou outro mimo inesperado e bom.
A realidade é, tantas vezes, difícil de acompanhar, valem-nos os ideais e os sonhos e, sobretudo, o amor. Neste filme nada é esquecido, até a música. Situando-se antes da queda do muro de Berlim, a mãe sofre um ataque cardíaco - quando se dirige para uma reunião e vê o filho a ser preso numa manifestação contra o regime - e entra em coma durante oito meses, tempo em que a vida tanto muda no seu país. O esforço e empenho do filho é mais do que comovente, é um hino de amor, tentando poupá-la da ocidentalização da sua Alemanha. Com a ajuda de um amigo, gravam em cassetes noticiários num registo que já não existe e muda compotas para frascos cada vez mais difíceis de encontrar, tudo para manter na mãe o empenho e o desejo de intervir numa sociedade mais justa. Só mais tarde saberá que a par da militância, existiam também muitas dúvidas sobre a sociedade amplamente igualitária.
Entrar nas fantasias de quem amamos e dar-lhes consistência é tão gratificante que comparo com o que fazemos às nossas crianças, corremos, cantamos e fingimos que bebemos chá nas chaveninhas de plástico.
A delicadeza e a gentileza, motores maiores da humanidade.