a casa da avozinha
está mesmo, mesmo, juntinha a uma floresta onde vive um lobo mau. Como a avó está doente, a Capuchinho Vermelho, sua neta, alegre e boa menina vai levar-lhe, esta manhã, uma cestinha com o almoço ainda quentinho. Ainda não sabe, mas o lobo mau vai lá estar, vestido de avozinha, e como tem muita fome e uma boca grande vai querer comê-la.
Esta história tem muito que se lhe diga. Dependemos muito da generosidade uns dos outros, já sabemos. Aqui a menina leva o almoço feito pela sua mãe – filha ou nora da avozinha - supondo que foi comprado com o dinheiro que o pai ganhou a trabalhar fora de casa.
A debilidade dos velhos afastados para casas vizinhas da floresta – imagem de mil perigos, entre os quais a existência de animais esfomeados - põe a cru a solidão e o seu único remédio, a boa disposição e a atenção de quem se ama. O remédio que mais conta.
Muita coisa mudou, a indústria farmacêutica, felizmente, tem tido imensos lucros mas também resultados. A avozinha dos dias de hoje, ficará de cama em casos muito graves, repartida a estadia com os hospitais, ou então - eu prefiro esta hipótese - porque partiu uma perna numa manifestação a favor de uma reorganização mais humanitária da sociedade. Mas está bem disposta, já falou hoje com a neta pelo telemóvel e sabe que ela passará por lá, com os pais, a caminho da escola e que não será necessário levar comida quentinha porque a avó tem micro-ondas e comida no frigorífico suficiente.
Embora com outros meios mais confortáveis, a avozinha continua a ser a avozinha.
E a netinha será sempre o recomeço.
E, além de inevitável, é lindo.