Claire Denis, Un beau soleil intérieur
Este filme honesto e sério fala sobre os relacionamentos no nosso tempo e conta com o brilho da admirável Juliette Binoche. À partida poderia ser tomado por uma história levezinha e pragmática sobre a liberdade das mulheres. Mas tem outro olhar.
Falando grosso modo não se vivem tempos de contentamento. O narcisismo que tanto tem sido estimulado, em cascatas de livros de auto-ajuda, e na competição pura e dura por causa do emprego escasso, e não só, está agora instalado como verdadeira epidemia. Claro que esta onda egoísta que se vive social e individualmente veio aumentar a solidão e a insatisfação. Como se não existisse a compaixão, a generosidade, a solidariedade e outros sentimentos que vão para além de cada um. Em direcção aos outros, aos benefícios comuns.
A história do filme é banal, porque as epidemias banalizam, uma mulher separada que tem encontros amorosos sucessivos, incluindo com o ex-marido, e que procura o amor perfeito. Quanto mais tempo passa mais vai fechando os olhos a detalhes que não gosta, porque a solidão passou a pesar muito mais que o que pretende. E o filme acaba com uma consulta a um vidente, porque é mais fácil acreditar que o problema está nas conjugações astrais ou coisa que o valha, do que na generosidade e compreensão.
É triste assistir a esta desumanização e à adoração de umbigos. Tão triste como a falta de consciencialização para a mudança de comportamentos que temos de fazer em relação às agressões que fazemos ao nosso planeta.
Não podemos continuar a usar e a deitar fora. Em tudo.
A liberdade não é isto.