da lucidez
quantas gaivotas em terra são precisas para se dizer que aí vem tempestade?
quantas vezes são contadas a indiferença e o desamor para acreditarmos que não nos querem?
quantos sorrisos conformistas temos de fazer para fingir que somos felizes?
e de quantos silêncios é feita a nossa independência?
se tudo acaba em que temos que nos bastar, então sejamos livres e corajosos no caminho
sem seduções
reduzindo necessidades, agradando sem reembolso, tal como respiramos
é aqui que quase tudo acontece, na nossa imensa necessidade de amor
fazemos piruetas, danças, saltos e volteios para que olhem para nós
fragilizamo-nos para que vejam a nossa sensibilidade, mostramos feridas a curar ao ar para que acreditem nas nossas forças
somos tão programados
é tão pequena a margem de manobra
mas, e por isso mesmo, é por aí que nos distinguimos.
Assim, em consciência, e num golpe de asa aluado deixamos a realidade em descanso para entramos, de novo, numa promessa de inocência.