Era uma vez
pintura a óleo, Rui Couto
de todas as histórias que me contaste, e foram muitas, sempre duvidei dessa má sorte de que falavas. Eras sempre, inevitavelmente, a inocente, a descuidada, a crédula, a vigarizada, imagens difíceis de encaixar numa mulher tão desenvolta e tão bem sucedida. Como é que tanta ingenuidade te dava tãos bons resultados materiais, tanto no aspecto como nos bens? Como? Intrigava-me e seduzia-me. Achava, quase sempre, que a vida acaba por compensar quem anda por bem, mas, ainda assim, não me sossegava. Era grande o desconcerto, ora me sentia indignado por não te terem tratado bem ora ficava zangado contigo, por teres mentido. Fiquei sem opções, só havia uma saída. Viver contigo era estar sempre em espectáculo, sem horário, bilhete ou a disponibilidade mental necessária.
Quando ouço a palavra hedonista lembro-me sempre de ti. O teu eixo, o teu prazer. Sobrava muito pouco.